Por Eduardo Benesi
Comecei a pensar que todos
nós tínhamos a tal frequência afetiva. Essa ideia talvez estivesse
diretamente ligada ao nível de presença que exercemos na vida das
pessoas importantes para nós e também a forma como demonstramos isso.
Pensei então em alguns exemplos de amigos que possuíam frequências
afetivas muito especificas:
– A
Natalia é uma amiga dos tempos de faculdade muito querida. Era daquele
tipo do fundão que se infiltra no seu grupo sem você convidar, mas que
no fim fazia tudo certinho. Sua característica marcante era o fato dela
apreciar novelas do canal Viva – isso era um segredo dela. Depois que
deixamos de conviver, comecei a perceber que eu só conseguia marcar algo
com ela de seis em seis meses, em média. Que se eu tentava marcar
coisas com intervalos menores, por algum motivo, o role não saia. Passei
a aceitar que esse era o tempo dela e que isso não diminuía a minha
importância em sua vida. Até hoje mantemos essa amizade tão especial
quanto semestral.
– Tem a Carol que
foi minha amiga da época de acampamento. A Carol é muito intensa e já
viveu as fases mais exóticas que você pode imaginar. Ela já quis ser
cigana e atriz, já foi para Brasília para defender ideias de esquerda,
já morou nos Estados Unidos e em Londres e hoje trabalha como
professora. O fato é que nessas fases de turbilhão a Carol sumia por
muito tempo, tipo quatro anos, e depois reaparecia do nada.
Depois,
sumia novamente por tempo indeterminado e eu nunca sabia em que momento
da vida eu encontraria ela novamente. Nossa amizade sempre teve esses
intervalos bruscos, sem data para a próxima vez. Há dois meses a Carol
me chamou para ser padrinho do seu casamento. E eu me dei conta de que
essa falta de obrigatoriedade temporal na nossa amizade pouco influía na
consideração que um tinha pelo outro.
–
Tem o exemplo da Divimary. Nós temos uma amizade cinéfila. Nossos
encontros são assíduos até hoje. Ao menos uma vez por mês damos um jeito
de marcar nosso café com cinema. Desde os tempos de faculdade, nos
acostumamos a passar tardes na Rua Augusta, regadas a filmes de todos os
tipos e passeios sem destino. Ela é daquele tipo de amiga que para te
ajudar, manda o seu currículo sem você saber e chega a ir à entrevista
de emprego junto pra te dar apoio moral. É daquelas que te dão apoio
quando você esta começando algo incerto e faz propaganda positiva sobre
você para todos os outros amigos dela. É engraçado que mesmo não fazendo
por ela exatamente na mesma medida o que ela faz por mim, tenho a
certeza que ela aceita a minha frequência afetiva.
A
ideia de “frequência afetiva” a meu ver envolve muito de aceitar o que o
outro tem pra te oferecer, mas principalmente o que ele não tem.
Nos últimos meses passei por diversas situações em que eu tive que
dizer não para alguns amigos e pessoas queridas. A verdade é que quanto
mais relações afetivas você tenta manter, mais você tem que
disponibilizar o seu tempo e fazer escolhas em prol delas.
Muitas vezes,
essas escolhas não vão favorecer um amigo seu e a maneira como ele
reage a isso é um momento importante para que você se descubra seletivo
em suas relações. Às vezes você não diz não por egoísmo, às vezes você
diz não porque tinha outra prioridade. Você conhece verdadeiramente as
pessoas – que supostamente gostam de você – quando observa como elas se
comportam diante desse não.
Existe a situação oposta: aquelas amigos que
nunca podem fazer nada, que de 100 convites, topam apenas um. Eu não
deixo de ser amigo dessas pessoas por isso, mas elas deixam de ser
prioridade na hora de pensar em quem vou chamar pra ir pra balada ou pro
teatro. Na minha escala de amizades assíduas, os amigos que costumam
topar coisas em cima da hora costumam naturalmente estar no topo das
minhas prioridades.
Essa aceitação
vale para todo tipo de relação, inclusive para as familiares ou para os
namoros. Existem relações familiares que se estabelecem apenas pela
convenção das datas comemorativas. Primos que você vê somente no Natal e
que talvez você não procure durante o ano exatamente por isso. Porque
esse tipo de frequência estabeleceu-se na relação com eles e não porque
no fundo você só os vê pela obrigação da data.
A frequência também
envolve o jeito de demonstrar afeto. No mundo também existe gente que
“não gosta” de receber ou demonstrar afeto ou que não é de abraço, pior
ainda se for demorado. Tem até gente que não lida bem com elogios. E
essa negociação de espaços é muito importante. Saber colocar em prática a
arte da empatia tentando entender e tolerar o outro da maneira como ele
é, caso você faça questão da relação.
Não
tem como finalizar esse texto sem tocar em um tipo de frequência
afetiva extremamente importante na vida virtual. A frequência de likes.
Existem aqueles amigos que não são de entrar na internet ou de
interagirem em redes sociais. Tem os que leem você em silêncio ou
aqueles que simplesmente têm preguiça do que você escreve – não
necessariamente preguiça de você. Existem os que usam o like como uma
forma de vínculo/interação/ manutenção de relação. Existe até aquela
pessoa que estranhamente só da like quando você conta alguma zica que te
aconteceu. Existe também o ciúme. – Por que ela vive dando like no
amiguinho e não em mim?
Na vida
conjugal as coisas ficam um pouco mais delicadas. Quanto menos
expectativas sobre o seu par melhor. Mas e pra baixá-las? É difícil
entender que existem parceiros que se esquecem de datas importantes ou
namoradas que não sentem ciúme de você e pronto. Aceitar uma vida a dois
tem muito de estarmos preparados para tudo o que não iremos receber.
Você está preparado para não receber? Você está preparado para receber,
só que não exatamente da forma que esperava? Você respeita a frequência
afetiva dos outros?
EmoticonEmoticon