Um equívoco é achar que no amor terá paz e felicidade. Ou na paz terá felicidade e amor. Ou na felicidade terá paz e amor.
Esqueça a mania de combos e pacotes.
Eu
vejo que são ideais que não estão interligados. Há um contingente
treinado para o amor, uma parte para a paz e ainda mais um grupo feito
para a felicidade.
A opção surge de condicionamentos, costumes e crenças ao longo da vida, às vezes inconscientes.
Certo é que escolheu um partido sentimental na adolescência, que definirá a natureza de seus relacionamentos dali por diante.
Pode
ser a separação dos pais que gera uma obsessão pelo amor ou um
temperamento arisco que propicia um apreço pela paz ou a troca constante
de residência que cria uma simpatia pela felicidade (improvisar e se
aventurar, sem prestar contas).
São fórmulas diferentes de existência, softwares de alma diferentes.
O que provoca o maior confronto no casamento ou namoro.
O
casal pode ser formado por aquele que mantém o ideal do amor e aquele
que deseja a paz. E eles não percebem o conflito desde a nascente e o
desgaste penoso de comunicação.
Enquanto
ela – filiada ao amor – não tem nenhum problema em se entregar, em ser
dependente, em estar perto e realizar planos conjuntos, ele – ligado à
paz – somente aspira à tranquilidade, garantir seu espaço e proteger
seus gostos individuais.
A primeira
reparte seus mínimos acontecimentos, arruma surpresas e inventa agenda
romântica, o segundo é mais quieto e lacônico, pretende permanecer mais
na sua rotina, e não entende a costumeira insistência de mais e mais
encontros.
Por sua vez, a primeira também não compreende a frieza de seu
namorado, que prefere se manter distante alguns dias e horários.
Não participam da mesma conversa e entram em choque. Um não é melhor do que o outro, apenas não captaram a essência antagônica.
Presos
a um consenso de que se gostam, não identificam os objetivos
divergentes. Estão ligados pela convivência, mas separados
conceitualmente.
Os ideais de vida
são opostos, fazendo com que ambos briguem com frequência e tenham a
sensação de que amam errado (jamais agradando ao seu par).
As vontades, absolutamente naturais e soberanas, em contato com a companhia, assumem contornos problemáticos de exigências.
Quando
as reclamações são por mais tempo lado a lado, a pessoa é do time do
amor. Quando as reclamações orbitam pelo respeito e maior espaço, a
pessoa claramente está vinculada ao time da paz.
Quando as reclamações
decorrem por mais leveza e menos drama, a pessoa pertence ao time da
felicidade.
Um exemplo é quando sua
namorada adoece no domingo. Quem é da ala do amor, mesmo que tenha
acordado alegre e disposto a passear, vai se solidarizar a ponto de não
pensar em mais nada.
O abatimento dela influenciará o seu temperamento.
Mudará suas pretensões para amparar, confortar e cuidar. Quem é da ala
da paz, seguirá com seus planos, o incidente não alterará seu humor,
acredita que ela melhorará e se mostrará atento em caso de alguma
necessidade.
Quem é da ala da felicidade, ainda se sentirá ofendido pelo
transtorno, já que ela estará estragando sua possibilidade de
aproveitar o final de semana.
Sorte é
de quem é do amor e encontra alguém do amor, é da paz e encontra alguém
da paz, é da felicidade e encontra alguém da felicidade. Daí, com menos
esforço, amor, paz e felicidade são capazes de vir juntos.
Fabrício Carpinejar
EmoticonEmoticon