Marina
Fernandes Calache Rudolf Steiner aborda em um de seus livros que, se
pudesse, a cada dia ele chamaria a Antroposofia de um modo diferente,
para que ela não se cristalizasse em torno de um conceito, tão viva e
dinâmica deve ser ela. Durante este ano, desde março, vocês leitores do
Peregrino puderam ter acesso a um grupo de pessoas e entidades que
trabalham em suas diversas áreas, expondo seus pensamentos todos
apoiados na visão antroposófica.
A
intenção do grupo sempre foi a de aproximar este conjunto de ideias,
esta maneira de olhar o mundo, numa oportunidade de fazer chegar a um
número maior de pessoas, de se tornar mais próximo, mais conhecido. Ao
lado da carreira profissional também acontece o desenvolvimento pessoal;
quem se entrega a esses conteúdos também é exigente consigo mesmo.
Para
fazer este caminho Steiner estabeleceu alguns passos que, se olharmos
os dias atuais, veremos o quanto precisamos deles. Se faz necessário a
prática de algumas qualidades anímicas para que possamos fazer frente a
variedade de problemas e decisões em que devemos atuar com consciência,
sendo este o primeiro passo a caminho da auto-evolução.
A primeira delas é a calma interior,
é a possibilidade de entrarmos em nossa vida anímica e independente do
que ocorre fora de nós, nos colocarmos numa situação de calma, sem
sermos assolados pela variedade de pensamentos, sem deixarmos que o
exterior adentre nesse espaço com sons, luzes, etc. Enfim, é ter o total
controle desse espaço interno e só permitir a calma.
A segunda é a intensa observação do mundo,
observar sem se derramar em conceitos e preconceitos sobre as coisas do
mundo, observar uma planta, uma pessoa, uma paisagem, o céu, a água, e
nessa observação se abster de si, deixar o objeto observado mostrar as
leis inerentes a ele.
A terceira é a serena observação dos próprios atos, colocar-se como objeto de observação e tanto quanto conseguirmos observar desprovido de sentimentalismos.
O quarto é a imparcialidade em relação às outras pessoas,
agir imparcialmente significa isentarmo-nos dos sentimentos que nos
ligam ás pessoas e somente perceber os atos que devem, estes sim,
estarem vinculados a um código de valores desenvolvidos durante a vida.
A quinta é a tolerância ao encarar opiniões,
saber ouvir pontos de vista contrários com respeito e tolerância,
manter-se sereno, sem levar as opiniões para o âmbito pessoal.
A sexta
são os calorosos sentimentos positivos com relação ao outro, este é o
sentimento de quem se alegra com o desenvolvimento do outro, esperar
sempre o melhor do outro.
A sétima é a gratidão pelo que se tem recebido do mundo e do outro, esta qualidade nos coloca num caminho de abertura para com o mundo e para com os outros.
A oitava é a equanimidade de sentimentos sem tornar-se frio,
ter equilíbrio, não se deixar arrastar pelos sentimentos provocados
pelas experiências, não subir nas nuvens quando tudo está bom, nem
descer ao fundo do poço quando nada corre bem, perceber que nós não
somos àquele momento, nós estamos nele, não fazê-lo maior do que é, e
preservarmos o que somos.
Estas são
qualidades que se forem desenvolvidas com determinação livre e seguida
de forma persistente se torna parte do próprio caráter, transformando a
pessoa em um ser melhor. A importância disso é reconhecida por qualquer
um. Por agora ficarei somente com esse primeiro passo, que se conseguir
ser efetuado fará do nosso mundo um lugar melhor.
Marina Fernandes Calache: Pedagogia Curativa, Terapeuta do Movimento, Visão Ampliada pela Antroposofia
Fonte: Antroposophy
Nota: O que é a antroposofia?
É
uma filosofia introduzida no início do século 20 pelo austríaco Rudolf
Steiner, que busca ter uma visão mais global do indivíduo. Isso
significa que os profissionais que atuam baseados nesta filosofia,
buscam olhar para além dos aspectos físicos do paciente: eles consideram
também as emoções, a ligação com o Universo e a forma como essa pessoa
conduz a sua vida e a sua vitalidade. Resumindo, são profissionais que
olham para a disposição do sujeito, que pode estar prejudicada se todos
estes fatores não estiverem em harmonia, abrindo espaço para o
surgimento de doenças.
1 comentários:
Marlon, em primeiro lugar, quero te dizer algo que você já sabia antes de mim: nada acontece por acaso, não nos conhecemos por acaso e nossa amizade foi repleta de sentido ("nenhuma folha cai de uma árvore sem o consentimento de Deus). Sobre o post... achei muito bom, muito bom mesmo. Gostaria de acrescentar, sem querer bancar a professoral ou dona de qualquer verdade (apenas baseada nos meus referenciais e vivências - e sei que você também tem a sua enorme inteligência, sensibilidade e evolução, e muitas afinidades comigo, se é que não percebeu), que acho recomendável não nos vincularmos a nenhum mestre, guia, manual, religião, filosofia, grupo político, etc., e sim fazermos nossa caminhada sozinhos, com nossa própria consciência e sentimentos (os quais, ao que me parece, você tem suficientes), para o que considero bastante recomendável o autoconhecimento. "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o mundo e os deuses" - Sócrates. Ou Jung: "quem conhece e lida muito com almas humanas acaba meio vidente" - e você já tem muito dessa percepção, sobretudo sendo de um signo sensível como Câncer. (Muito embora num primeiro momento pode ser importante buscarmos algum guia - e conhecimento nunca é demais). Mas chega o momento em que o discípulo deve se afastar de seu(s) mestre(s), se individualizar, como foi o caso de Jung, que seguia Freud, mas depois se afastou dele por divergências inconciliáveis de pensamentos. Quero te contar também algo que não me fazia muito sentido, mas hoje faz. Você sabia que os santos pediam a Deus que lhes mandasse sofrimentos, provações, para que eles pudessem com isso se purificar, se santificar? Nem todas as pessoas pedem sofrimentos, algumas já os têm, como é o teu caso e o meu - e são graças, o sofrimento é uma das maiores fontes de enriquecimento e aprofundamento, se soubermos como nos interiorizar e nos conectar com nosso eu superior. Não posso te ensinar como fazer isso, é algo que só você pode aprender, e da sua forma, não da minha. Às vezes temos a tendência de querer apressar as descobertas das pessoas, mas não há como fazer isso. Algo que me ajudou muito nesse sentido foram meus cerca de 9 anos (ou mais, perdi até a conta) com Dr. Hamilton, (sobretudo no aspecto psicoterapêutico da relação médico/paciente e na nossa amizade). Se você tiver oportunidade, faça isso - com alguém com quem tenha muita empatia e confie, tanto em competência como em humanidade (se perceber que o terapeuta, ou psiquiatra/terapeuta, vê um cifrâo em você, fuja). Eu comecei a terapia uma criança boba e hoje me sinto uma mulher enriquecida em vários sentidos - mas sempre com muito a aprender - e felizmente, senão tudo seria muito sem graça, sem desafios. Como diz o Luiz Fernando Veríssimo: "quando se pensa que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas."
Um beijo
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